ÚLTIMA SENTENÇA








 Um urubu pousou na minha s

 Como pousou na sorte de Augusto.

 Desceu de chofre e me pregou um susto,


 Calou a vida e me falou de morte.




 O urubu, fazendo poesia


 De sua mortuária substância,


 Com asas podres cobre a distância


 Que separou nosso caráter um dia.




 Fosse Arquimedes, urubu frajola,


 Cheio de rios e serras teixeiras,


 Podendo agir de todas as maneiras,


 Sem permissão, sem liberdade-esmola.



 Depositando a alienação


 Em consciência de caráter incerto,


 Esse urubu é um letreiro aberto,


 Amassa o trigo e desfaz o pão.




 O urubu pousou na minha sina


 Sem condições de explicar-me nada,


 Volúvel ave vil e alienada


Que o bom senso humilha e assassina.




 Tocou de leve as águas da palavra


O urubu, membrana cancerosa,


Ave perdida, ave dolorosa


Que a alma assusta, arruína e escalavra.




Eu, portador de estranha doença,


Atraio assim esse urubu faminto,


Volátil ave, espantador retinto,


 É pai e mãe de minha indiferença.




 Ele me habita então como querença,


 Uma afeição assim perniciosa,


 Satisfação sutil e odiosa


 Lavrando enfim a última sentença.



 Fábio Mozart, Itabaiana, em 29 de maio de 2011
 www.fabiomozart.blogspot.com


Comments

Popular Posts